26 março, 2013

Leão de chácara



Cerca de 50... 100 homens
passam pela minha revista todas as noites
o detector de metal apita às vezes
armas brancas e os calibres no guarda-volume

enlouqueço cotidianamente
ela
a puta mais linda da casa
imagino eles terem a sua vez

é um puteiro de bairro
já trabalhei em melhores
tenho visão empreendedora
chamaria ela

não para foder com os clientes
nem ser cafetina 
mas para ajudar a cuidar dos negócios
talvez casar e ter filhos

19 março, 2013

Leucemia



Pacientes com câncer em fase terminal
utilizam maconha no tratamento
paralelo a quimioterapia
um analgésico, como a morfina

para mim
nada disso surte efeito
preciso de uma taça de vinho
ou de uma camisa de força

mas o meu remédio
a cura para minhas inquietações
é você
que vem trocar o soro todas as manhãs

me leve com você
para o mundo dos sonhos
onde os pesadelos são apenas lembranças
e o amor não passa de loucura passageira


09 março, 2013

Vem cá, vou te contar um segredo



Ela senta na mesa
eu me encaixo entre as suas pernas
chego bem perto
o suficiente para sentir o perfume dos seus cabelos

ela puxa lentamente seu vestido vermelho
somente até o joelho
eu, com minhas mãos continuo de onde parou
avançando pelas suas pernas

aperto as suas coxas com força
ela esboça gritar
eu, gesticulo, postando o indicador verticalmente nos lábios:
shhhhhhhhh!

sinto pelo tato suas cicatrizes
em sua pele, sua alma
me ajoelho 
e passeio com minha língua pelo seu corpo


07 março, 2013

As maçãs do seu rosto estão avermelhadas (de Artud Aytnic)



Nunca foi a melhor opção 
posso ser descoberta
como sabe é 
contar a verdade? assumir a mentira?

e as das outras pessoas?
acho que não vai saber responder
nem eu
a única coisa que eu posso dizer: não mentir

isso magoa, sabia?
e pedir desculpas 
nem sempre significa não mentirei de novo
a pessoa pode não acreditar mais em você

penso assim: mentiu uma vez, vai mentir sempre 
estou me precipitando?
pode até ser 
mais a confiança traída jamais será remendada


06 março, 2013

Fallen



Minha bisneta vem me visitar aos domingos
não lembro o nome dela
então, chamo-a de um nome qualquer
de alguma mulher que passou em minha vida

ela parece não se importar
e finge não reparar nas minhas mãos tremulas
traz doces
mesmo eu tendo diabetes

ela abre as persianas contra minha vontade
só a deixo fazer por um motivo
realçam os seus cabelos loiros
fica parecendo um girassol 

ela empurra a cadeira de rodas até a varanda
lê em voz alta para mim
uma história sobre anjos
parece que eles estão por toda parte



04 março, 2013

Sentinela



Com o sol no horizonte
fica difícil ver quem se aproxima
sinto ela assoprar no ouvido
“me escreva um poema”

claro
aparece lá em casa
preciso da sua ajuda
fica mais fácil

passei a escrever
mas o papel continuava em branco
ela arranhava as palavras
mordia as estrofes 

segurei-a pelo cabelo
e cravei a caneta em seu pescoço
a cama ficou tingida de palavras
e no chão caíram os versos